sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Tempo dos livros mortos

No tempo dos livros mortos, enterrados pelas areias do tempo, sente-se, escolha um canto e perceba com quão sutil dever lhe levaram os dizeres e os fazeres de outrora.

Veja que as alianças não apregoadas se foram com os ventos que estas não tocaram, e que todo pedaço de matéria viva de sonho muda de significado. E isto se faz pelo vão dos dedos, espreitado por olhos que não se dão conta de que além de vistos não vêem.

Veja também que as palavras perdem o som, e no papel perdem a forma, o efeito, e nada que diga soará para mudar o que já não se ouve. Inevitavelmente um mundo surdo, um mundo de mudos.

Observe que os antigos laços afrouxam, mas não em força. Apenas maleabilizam sua existência, adaptado-a a grandes distâncias e velhas memórias. Os laços novos? Estes são insípidos e sem colorido, na verdade, não há mais ânimo para se embrulhar presentes.

No tempo dos livros mortos, que aparentemente nunca tiveram vida, tudo é o mesmo, porém, nada é igual, basta apenas, assíduo leitor, abrir seus olhos e ver sua face em rabiscos na areia, perder-se no silêncio e notar até onde ontem não é hoje e o de sempre nada dura.


Will



Apenas cortando a rotina com algum som inaudível... Adieu.