quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Monólogo: De um, para outro homem morto

-Não me olhe nos olhos com tamanha pena, moribundo dos infernos, quando me julgas se condena ao limbo tanto quanto me jogas ao tártaro.

-Cale-se, homem ignorante, porque protestas e vocifera contra os quase-mortos a beira da inevitável morte?

-Além de protestos nada me resta, além de meias palavras de destino certo, além do pó que se guardará sobre a fria sepultura.

-Temes o concreto e foges do incerto, reclama e pragmatiza com tentativas complexas, quem és tu que ages de forma tão pueril e incoerente esperando um cru resultado seguro?

-Nada sou além de nada e nada espero do que não provém do nada. Consegue entender e confiar na lógica de um semi-morto?

-Tão fácil quanto me vejo assentado no fim do mundo, à beira do abismo, em tamanho estado pútrido e imundo.

-Então não me julgas de fato? Cadaver é, convicto, em termos límpidos e claros?

-Certo como o frescor dos miasmas que nos levam abaixo, certo como resta noite após o dia, indiscutivelmente, meu caro, de fato.

E naquele fim de tarde somente uma tumba foi cavada, uma lápide foi cravada, mesmo que de pertencente aos vivos, não sobrara nada.